A
última vez que andei de táxi, disse para o motorista:
- Não
se preocupe com o UBER, não vai dar certo no Rio de Janeiro. Daria se
trouxessem motoristas da Escandinávia para trabalhar aqui. Com nossa
matéria-prima...” Ele percebeu meu sarcasmo (o que me emocionou).
Usei
o UBER quatro vezes. A primeira viagem foi ótima. Motorista atencioso, preço
baixo, carro confortável. Ganhei balinha, água gelada, ar condicionado Sibéria
e rádio desligado. O paraíso. No final, ele me passou um cartão e orientou:
- Na
próxima vez, o senhor não precisa usar o aplicativo. Ligue para mim,
diretamente.
Na
segunda vez, estava em frente ao Hortifruti da Tijuca, na “obscura” Rua Conde
de Bonfim. Liguei e o piloto me pediu para esperar 5 minutos. 15 minutos
depois, liguei pra ele.
-
Sr. Utahy, estou em frente ao Hortifruti.
- Amigo,
eu estou em frente ao Hortifruti.
-
Meu carro é um Renault Sandero, prata... Espera, Sr. Utahy, estou no Hortifruti
errado.
-
Estou vendo em meu espertofone.
-
Em 5 minutos chego aí.
Chegou
em 20, depois de se perder outras vezes. Eu que não distingo marcas de carro,
cheguei a bater na janela de um Renault qualquer coisa, quase levando ao
enfarte uma senhora que parecia gêmea da ex-prefeita de São Paulo, Luiza
Erundina. De novo, motorista atencioso, preço baixo, carro confortável, água
gelada, balinha, ar refrigerado Groenlândia e rádio sem funque. E o cartão seguido
da recomendação:
- Ligue
diretamente para mim.
O
terceiro, eu estava no Recreio. Deu problema no GPS dele. Na hora de pagar, dei
os 70 reais que ele me pediu, paguei o pedágio por fora e fiquei com a mão
estendida para receber o cartão e a recomendação para ligar pra ele.
A
quarta e última viagem foi mais traumática. Estava duro, dindim contado. Optei
pelo UBER por causa da prévia do valor da corrida que o aplicativo faz. Daria 18
reais. Estava com 30. Ia dar até pra comer um pastel com o troco.
O
carro que viria me buscar, um Logan, eu dispensaria na rua. Não deu tempo de
recusar. Chegava em um minuto.
- Dias
da Cruz. Bem no começo. O senhor pode ir pela...
-
Não se preocupe, senhor. O GPS nos conduz.
Lembrei-me
uma reportagem que li sobre as rigorosas avaliações que os motoristas de UBER
fazem sobre nós, clientes. Um dos motivos de termos nossas notas reduzidas é
exatamente o mau hábito de querer ensinar o melhor caminho. Uberistas são
orgulhosos e zelosos de sua modernidade tecnológica. E lá fomos nós pela Linha
Amarela, em direção ao final da Dias da Cruz. Senti falta da balinha, da água
gelada, do ar condicionado Alaska e, no rádio, sertanejo universitário.
-
Senhor, estou vendo aqui no Waze que teremos uma pequena retenção na Dias da
Cruz.
-
Meu querido, não preciso de Waze para informar engarrafamento na Dias da Cruz.
Ela está sempre assim. Aliás, a Av. Meriti, a São Clemente e a Voluntários,
também. Se eu tivesse um GPS desse jogava no lixo.
Chegamos,
senhor:
-
Quanto é?
-
43 reais, senhor.
- O
quê?
-
Tem uma pendência de uma corrida anterior.
- Pendência?
Só pago essa corrida.
-
Senhor, aqui está informando que o senhor tem uma pendência com o UBER.
-
Não tenho. Não pago pendência. Pago esta corrida.
Paguei,
desci e comecei a receber recados do UBER me cobrando 24 pratas da corrida do
Recreio. O uberista me avaliou com nota três. Magoei.
Concluí,
então, meu relato ao taxista:
- Aqui,
tudo se desmoraliza, piloto.
Ele
se virou para mim e disse:
- Sou
auxiliar aqui no táxi. O dono me esfola. Fico até o fim do ano. Não tá dando,
chapa. Vou pro UBER, mas também não vou trabalhar direitinho. Vou ter meus
clientes por fora. Não estou aqui pra ser explorado por aplicativo.
Como
disse, a salvação seriam os escandinavos. Como eles não virão, o UBER só não
acabará porque será mantido vivo por nossos políticos demagogos e pelas
milícias amarelas.
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