quinta-feira, dezembro 01, 2016

QUE VENHAM OS ESCANDINAVOS


A última vez que andei de táxi, disse para o motorista:
- Não se preocupe com o UBER, não vai dar certo no Rio de Janeiro. Daria se trouxessem motoristas da Escandinávia para trabalhar aqui. Com nossa matéria-prima...” Ele percebeu meu sarcasmo (o que me emocionou).
Usei o UBER quatro vezes. A primeira viagem foi ótima. Motorista atencioso, preço baixo, carro confortável. Ganhei balinha, água gelada, ar condicionado Sibéria e rádio desligado. O paraíso. No final, ele me passou um cartão e orientou:
- Na próxima vez, o senhor não precisa usar o aplicativo. Ligue para mim, diretamente.
Na segunda vez, estava em frente ao Hortifruti da Tijuca, na “obscura” Rua Conde de Bonfim. Liguei e o piloto me pediu para esperar 5 minutos. 15 minutos depois, liguei pra ele.
- Sr. Utahy, estou em frente ao Hortifruti.
- Amigo, eu estou em frente ao Hortifruti.
- Meu carro é um Renault Sandero, prata... Espera, Sr. Utahy, estou no Hortifruti errado.
- Estou vendo em meu espertofone.
- Em 5 minutos chego aí.
Chegou em 20, depois de se perder outras vezes. Eu que não distingo marcas de carro, cheguei a bater na janela de um Renault qualquer coisa, quase levando ao enfarte uma senhora que parecia gêmea da ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. De novo, motorista atencioso, preço baixo, carro confortável, água gelada, balinha, ar refrigerado Groenlândia e rádio sem funque. E o cartão seguido da recomendação:
- Ligue diretamente para mim.
O terceiro, eu estava no Recreio. Deu problema no GPS dele. Na hora de pagar, dei os 70 reais que ele me pediu, paguei o pedágio por fora e fiquei com a mão estendida para receber o cartão e a recomendação para ligar pra ele.
A quarta e última viagem foi mais traumática. Estava duro, dindim contado. Optei pelo UBER por causa da prévia do valor da corrida que o aplicativo faz. Daria 18 reais. Estava com 30. Ia dar até pra comer um pastel com o troco.
O carro que viria me buscar, um Logan, eu dispensaria na rua. Não deu tempo de recusar. Chegava em um minuto.
- Dias da Cruz. Bem no começo. O senhor pode ir pela...
- Não se preocupe, senhor. O GPS nos conduz.
Lembrei-me uma reportagem que li sobre as rigorosas avaliações que os motoristas de UBER fazem sobre nós, clientes. Um dos motivos de termos nossas notas reduzidas é exatamente o mau hábito de querer ensinar o melhor caminho. Uberistas são orgulhosos e zelosos de sua modernidade tecnológica. E lá fomos nós pela Linha Amarela, em direção ao final da Dias da Cruz. Senti falta da balinha, da água gelada, do ar condicionado Alaska e, no rádio, sertanejo universitário.
- Senhor, estou vendo aqui no Waze que teremos uma pequena retenção na Dias da Cruz.
- Meu querido, não preciso de Waze para informar engarrafamento na Dias da Cruz. Ela está sempre assim. Aliás, a Av. Meriti, a São Clemente e a Voluntários, também. Se eu tivesse um GPS desse jogava no lixo.
Chegamos, senhor:
- Quanto é?
- 43 reais, senhor.
- O quê?
- Tem uma pendência de uma corrida anterior.
- Pendência? Só pago essa corrida.
- Senhor, aqui está informando que o senhor tem uma pendência com o UBER.
- Não tenho. Não pago pendência. Pago esta corrida.
Paguei, desci e comecei a receber recados do UBER me cobrando 24 pratas da corrida do Recreio. O uberista me avaliou com nota três. Magoei.
Concluí, então, meu relato ao taxista:
- Aqui, tudo se desmoraliza, piloto.
Ele se virou para mim e disse:
- Sou auxiliar aqui no táxi. O dono me esfola. Fico até o fim do ano. Não tá dando, chapa. Vou pro UBER, mas também não vou trabalhar direitinho. Vou ter meus clientes por fora. Não estou aqui pra ser explorado por aplicativo.

Como disse, a salvação seriam os escandinavos. Como eles não virão, o UBER só não acabará porque será mantido vivo por nossos políticos demagogos e pelas milícias amarelas.

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