quinta-feira, dezembro 16, 2010

Cafezinho & Cervejinha



Gordo e Tradição do Samba não se viam há algum tempo.
O Gordo ligou pra ele, perguntou se tinha contatos, precisava falar qualquer coisa sobre a invasão do Complexo. Tradição não refugou e confirmou encontro com dois policiais numa mesa de fundo de um boteco na Praça de Inhaúma.
– Eles aceitaram falar, no mocó, agora que a poeira baixou. Mas aí, Gordo, sem vacilo. A poeira baixou, mas não assentou completamente, e os leões ainda têm dentes.
– Porra, Tradiça, assim eu quase desisto. Os caras têm o que contar? E se têm, por que vão abrir?
– Vingança. Levaram uma volta e estão querendo dar o troco.
No boteco, os caras despejaram. Cafezinho e Cervejinha estavam putos. Cafezinho falou primeiro.
– Rolou muita grana. Deixaram a gente de fora de sacanagem. Disseram que a gente tava visado. Visado, como? Moro aí em Pilares. Casa confortável, mas em Pilares. Minha parada de veraneio, em Rio das Ostras, pouca gente sabe. Só os firmões. Pô, a gente tava lá quando desceu um monte. Tudo escoltado. Não rolou nem um cafezinho pra nós.
– Sr. Cafezinho, uma dúvida: primeiro entraram na Vila Cruzeiro e só depois entraram no Complexo?
Cervejinha tomou a palavra:
– Na Vila foi limpo, todo mundo tava ligado: federal, exército, imprensa. Mas vivemos em busca de oportunidades. Os caras entraram atrás da bandidagem e a ninhada teria de sair por algum canto. E saiu. Brotou gente das entranhas da terra. E era só brotar que tinha quem cobrasse pedágio. Foi nessa que jogaram a gente pro alto. Pô, a gente já armou uma pá de esquema. Eu não posso reclamar, mas tem colega em dificuldade. Tenho minha moradia aqui em Inhaúma, mas todo fim de semana, quando dá, vou pro apezão no Recreio. A mulher já tá por lá. Num vem mais pra cá, não se adapta com a poeira do subúrbio. É vizinha da patroa do Polegar. São amigas. Pô, cara, essa parada é negócio. A gente só quer viver.
– Eu li em uma revista que lá em cima não podia falar “gente”, porque o bordão do Comando é “É nóis”. Isso é verdade.
Ficou todo mundo olhando meio sem entender para o Tradição.
– O Tradiça, isso não vem ao caso... Nós, a gente, a velhice é fó. Mas, então, vocês garantem que saiu muita gente?
– Saíram os grandões. Os ratinhos foram largados. Os maiores que ficaram não eram tão graúdos como se imaginavam.
– Vocês acham que agora as coisas vão melhorar?
– Eu e Cervejinha estamos ligados na Rocinha. Tenho ido ao monte duas vezes por semana para ser destacado na invasão daquela mina de ouro. Já falei com o Cervejinha, temos de ser proativos. Lá será uma invasão com propósitos e as primícias serão nossas.

Um comentário:

Belchior disse...

coronel Warren já está em linha direta com Beltrame engendrando essa tomada de poder. circula boato que os uniformes dos militares envolvidos serão florais. tem que ter propósito desde o primeiro instante.