segunda-feira, agosto 09, 2010

VERME



Rejane Verme morreu.
Já foi tarde.
O Movimento a matou.
Muita porrada, tortura, corpo queimado eteceteraetal.
Mereceu.
Seu cadáver, nu, enfeia mais ainda a entrada da comunidade.
Era uma língua de trapo.
Fodeu meia-dúzia de moleques com seus comentários venenosos.
“Se os homens foram direto no paiol é porque alguém entregou. Eu vi o Tião falando com uns caras estranhos”, lançava ao vento, a Verme, palavras entranhadas de peçonha. E o Tião, pelo sim pelo não, era assado no micro-ondas.
Verme era sobrenome, podia ser apelido.
O marido deixou-a e sumiu.
A mulher tinha na boca os ovos de todos os chefes do Movimento.
Ninguém a suportava, mas era bem tratada.
Mandava pra morte os de quem não gostava. Matava com a língua.
O que fez pra morrer ninguém sabia. Nem interessava.
Mas estava lá o corpo estendido no chão.
Muitos moradores passaram por ela e lhe prestaram uma última homenagem.
Homenagem que vinha das entranhas, percorria o interior do corpo e saía em forma de jato de escarro.
A comunidade regozijava-se por encatarrar a Verme.

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