Assombrações, fantasmas, nunca acreditei nessas coisas, mas...
Há vinte e poucos anos fui com um amigo passar um fim de semana em uma cidade praiana. Jonas, todos os anos, passava as férias no que ele chamava de paraíso na terra. A cidade não me impressionou, as primas dele, sim. Entendi por que ali era o paraíso.
Sou cheio de defeitos, com uma qualidade: determinação. Aurora, a prima mais velha de Jonas, me encantou. Infelizmente, não tive oportunidade de conversar com ela. Por isso, uma semana depois voltei à cidade e disse a ela, sem rodeios, o que sentia. Começamos a namorar. Em três meses estávamos casados. Jonas foi o padrinho.
No período em que namorei Aurora, por três vezes Jonas me acompanhou nos fins de semana. Passava o dia na casa, conosco, à noite ia para um hotel. Eu dormia na casa e estranhava Jonas não fazer o mesmo. Aurora me explicou a razão: “Jonas nunca se acostumou com os fantasmas”.
“Você nunca viu nada, lá?”, me perguntou Jonas. Não, nunca. E continuei não vendo. Talvez por causa de Aurora.
Vivemos juntos seis anos intensos. Ela e as irmãs esbarravam nos espectros em todos os cômodos. Era só anoitecer. Estavam habituadas. “Eles não incomodam, só ficam nos olhando”.
Casamos, com dinheiro poupado, comprei uma lojinha e fui morar na casa assombrada. Os fantasmas, aparentemente, não viram em mim nada que valesse a pena olhar. Não me olhavam, eu não os via.
Uma madrugada, acordei para ir ao banheiro. Sentei-me na cama e à minha frente uma mulher me observava. Nossos olhares se cruzaram. Encarei-a sem medo, um pouquinho curioso. Ficamos ali, um de frente pro outro. Seu rosto, impassível, não transmitia nenhum sentimento. Pensei em acordar Aurora, mas para quê? Tornei a olhar a mulher, levantei-me, atravessei-a e fui mijar.